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O parto: marco da paternidade

Para Szejer e Stewart (1997) homem e mulher funcionam de maneira diferente, tanto em relação ao psiquismo quanto fisiologicamente. Para um homem, desejar um(a) filho(a) não significa a mesma coisa que para uma mulher, visto que o contexto e a noção do tempo são distintos. Assim, a transição para a paternidade deve ser compreendida de maneira singular, considerando a história de vida do homem, a história do casal e o desejo de ter um(a) filho(a).

Na descoberta da gestação, o homem e a mulher deixam de ser apenas filhos para tornarem-se pais. Neste momento, ambos vivenciam expectativas, temores, alegrias e fantasias. O homem, assim como a mulher, sofre os impactos dessa mudança e um misto de sentimentos e pensamentos surge em relação as responsabilidades com a família, companheira e com o bebê (Maldonado, 1980).

Culturalmente, ainda, é comum a mulher preparar-se para ser mãe, enquanto o homem vivencia a preparação para a paternidade durante a gestação da companheira (Gabriel & Dias, 2017). Nesse período é comum que sentimentos de ansiedade, insegurança, nervosismo e medo estejam presente,

independentemente da idade do homem. Há, ainda, homens que apresentam sintomas físicos, como enjoos e alterações de apetite. Tais sintomas são característicos da Síndrome de Couvade (Cunningham, 2003).

É possível verificar que, nos dias atuais, os homens têm se envolvido mais na gestação da companheira e, compreendido a importância que é atribuída a paternidade, antes mesmo do nascimento do bebê. Ainda, é comum ouvirmos que muitos pais se sentem verdadeiramente pai ao pegar seu filho no colo, mesmo que tenham vivenciado intensamente cada etapa da gestação. O nascimento do bebê é o momento em que a paternidade se concretiza (Gonçalves et al., 2013).

A ativa participação paterna durante a gestação tende a facilitar a participação paterna na hora do parto. Predomini e Bonilha (2011), observaram em sua pesquisa que os pais que estiveram presentes nos primeiros minutos de vida do(a) filho(a), sentiram-se gratificados e emocionados. Compreendem que a partir deste acontecimento é possível verificar a criação do vínculo emocional entre pai e filho(a). Logo, essa experiência paterna determina a relação pai-bebê ao longo dos primeiros meses de vida do bebê e impulsionam a paternalização (Gonçalves et al., 2013).

Apesar do parto ainda ser um momento essencialmente feminino, a companhia do pai vem sendo reforçada pela equipe médica que permite a participação do pai no trabalho de parto (Bolze, 2011). Pode-se citar o guia produzido pelo Ministério de Saúde, intitulado “Guia Pré-Natal do Parceiro”, que apresenta aos profissionais de saúde a importância do acompanhamento paterno ao longo da gestação da companheira e as intercorrências positivas deste envolvimento para a saúde e desenvolvimento da família (Herrmann, Silva, Chakora & Lima, 2016).

A busca por informações sobre esse momento pode ser considerada um diferencial na maneira como o pai se envolve (e como se recordará) no parto do(a) filho(a) (Szjer & Stewart, 1997). As autoras apontam que as técnicas que são ensinadas em sessões de preparação para o parto, como técnicas de respiração e movimentação da pelve, auxiliam a mulher vivenciar de maneira ativa o parto e, consequentemente auxilia na participação e apoio paterno.

No estudo de Tomeleri et al., (2007) foi possível verificar que os pais que assistiram e participaram do nascimento do(a) filho(a) relataram a experiência como positiva, pautada no suporte emocional, indicando o favorecimento de um o maior envolvimento com o bebê. Szjer e Stewart (1997, p. 255) elucidam que “a presença do pai pode encontrar todo o seu sentido: acolher o filho, nomeá-lo, talvez até chamar o filho no momento da passagem, chama-lo para a vida [...].” Assim, compreende-se que a ligação emocional entre pai-bebê, proporcionada pelo parto, favorece um maior envolvimento paterno na vida da criança, principalmente nos primeiros meses de vida.

Com o nascimento do bebê, o pai passa a vivenciar concretamente o papel paterno, diferentemente da gestação, que seria uma etapa de preparação (Gabriel & Dias, 2017). Lamb (1997) pontua que os pais desempenham muitos papéis, tais como provedor financeiro, apoio emocional materno e cuidador, porém a importância dispensada a cada um deles depende de um contexto para outro. Nesta vivência da paternidade na atualidade, a maioria dos pais envolvem-se emocionalmente e nos cuidados com o(a) filho(a) (Gabriel & Dias, 2017).

Portanto, os pais devem ser estimulados a participar das consultas de pré-natal durante os nove meses de gestação e também, nas atividades relativas as escolhas necessárias durante esse período como compra de roupas, escolha dos móveis, organização e planejamento das atividades diárias. O pai é uma figura importante no período de pré-natal não somente pelo apoio e acompanhamento da gestante, mas também por constituir a sua identidade de pai, poder expressar seus sentimentos e expectativas em relação a esse momento, o que contribui para o seu envolvimento afetivo com o bebê.

Referências

Cunningham, B. T. (2003). A comparison of relationship dimensions with behavior dimensions for first time expectant fathers. Dissertação de Mestrado não publicada. Marshall University, Huntington, WV.

Draper, J. (2002) ‘It’s the first scientific evidence’: men’s experience of pregnancy confirmation. Issues and Innovations in Nursing Practice, 39(6), 563-570.

Gabriel, M. R., & Dias, A. C. G. (2011). Percepções sobre a paternidade: descrevendo a si mesmo e o próprio pai como pai. Estudos de Psicologia, 16(3), 253-261.

Gonçalves, T. R., Guimarães, L. E., Silva, M. R., Lopes, R. C. S., & Piccinini, C. A. (2013). Experiência da paternidade aos três meses do bebê. Psicologia: Reflexão e Crítica, 26(3), 599-608. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722013000300020

Hermann, A., Silva, M. L., Chakora, E. S., & Lima, D. C. (2016). Guia do pré-natal do parceiro para profissionais da saúde. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde.

Lamb, M. (1997). O papel do pai em mudança. Análise Psicológica. 19-34

Maldonado, M. T. P. (1980). Psicologia da gravidez, parto e puerpério. Rio de Janeiro: Vozes.

Perdomini, F. R. I., & Bonilha, A. L. L. (2011) A participação do pai como acompanhante da mulher no parto. Texto & Contexto Enfermagem, 3. 445-452. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072011000300004

Szejer, M., & Stewart, R. (1997). Nove meses na vida da mulher: Uma abordagem psicanalítica da gravidez e do nascimento. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Tomeleri, K. R., Pieri, F. M., Violin, M. R., Serafim, D., & Marcon, S. S. (2007). Eu vi o meu filho nascer: vivência dos pais na sala de partos. Revista Gaúcha Enfermagem, 28(4), 497-504.


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