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Deixe-me passar com a minha dor.

  • Lydiane Soares
  • 20 de set. de 2018
  • 2 min de leitura

“Dói perder qualquer coisa, mas perder

Um filho dói tão fundo na alma, que

Mesmo no mais discreto silêncio, é

Possível ouvir o derramar das lágrimas.”

(Camila Goytacaz)

Perder um filho que não nasceu é não ter seu filho nos braços, mas ainda sentir-se mãe. É despedir-se de expectativas e projetos que não vão mais se realizar e desconstruir identidades de pai e mãe daquele filho que não puderam conhecer. Pode-se planejar para muitos eventos que envolvem a espera de um filho, mas para a interrupção da gravidez não há como preparar-se.

A perda perinatal é um corte profundo e intenso, que necessita de tempo e cuidado para ser cicatrizada. Os pais são pegos de surpresa quando a barriga de repente se esvazia e muitos desejos e planos passam a não fazer mais sentido. É chegada a hora de lidar com a solidão, afinal, a perda perinatal não costuma encontrar escutas à sua dor. Um vazio emocional se instala e nele costumam ecoar vozes dizendo aos pais que logo terão outro bebê ou que não faz sentido chorar por um bebê que não conheceram. Ainda que a intenção seja motivar ou amparar os pais que estão em luto, existe uma dor que não é validada.

Poder falar de um filho invisível para os demais, mas real e presente para os pais que o perderam, possibilita a expressão de sentimentos, fantasias e medos que podem surgir com essa experiência. As atitudes tomadas por familiares, amigos e pela equipe de saúde, afetam diretamente o estado emocional de quem vive a perda perinatal. O tabu sobre a morte, especialmente no início da vida, e as dificuldades encontradas no social em suportar a dor da perda, comumente silenciam o sofrimento dos pais.

A escuta especializada da psicologia perinatal propicia aos pais encontrar espaço para manifestar e legitimar suas dores, elaborar suas feridas e passar por um processo de significação dessa experiência. Geralmente, a mulher que passa pela perda perinatal vivencia culpa e vergonha por sentir-se impotente, incapaz de gestar e proteger o seu filho. A possibilidade de outra gestação costuma despertar temores e a identidade do novo bebê pode ser confundida com a do bebê perdido. Compreender que nenhum filho poderá substituir outro é fundamental para que o bebê perdido tenha o seu lugar na história dos seus pais.

O acompanhamento psicológico permite que os pais passem com as suas dores para que essas possam ser reparadas. A possibilidade de comunicar o que parecia incomunicável promove o fortalecimento emocional e a desconstrução de fantasias, prevenindo possíveis complicações futuras. Quando o sofrimento é acolhido a elaboração do luto torna-se possível. A aceitação da perda auxilia na preservação da saúde mental dos pais e na confiança em construir novos horizontes de futuro.

O vazio provocado pela perda transforma-se ao longo do processo e a possibilidade de colocar os sentimentos em palavras, devolve aos pais a perspectiva de reencontrar sentido na vida e voltar a andar de mãos dadas com a esperança.


Referências:


GOYTACAZ,C. Até breve, José. São Paulo: 2015

PONTES,M.M. Maternidade interrompida – O drama da perda gestacional. São Paulo: Ed.Ágora, 2009.

QUAYLE.J.M.de B.R. Um estudo sobre mulheres com história de abortamento espontâneo: aspectos psicossomáticos. Revista de Psicologia Hospitalar. São Paulo: 1994.


 
 
 

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