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Tornar-se pai: aspectos emocionais da transição para a paternidade.



Historicamente, aos homens eram atribuídas as funções de proteger e prover o sustento da família. Com as modificações socioculturais, ocorridas a partir da década de 70, o papel paterno passa a ser ampliado, deixando de ser apenas o provedor da família, mas, também o responsável pelo lar, pelos(as) filhos(as) e envolvido emocionalmente com a família. Essa modificações socioculturais permitiram que o homem seja mais participativo na gravidez da companheira, no envolvimento com o(a) filho(a) e que permita-se vivenciar a paternidade.

Os contextos de vida do indivíduo podem influenciar na maneira como o homem encara e vivencia a paternidade. As percepções positivas paternas sobre o(a) filho(a), são associadas as normas culturais sobre o papel do homem e paternidade. Entende-se que a cultura exerce influência direta na maneira e intensidade em que o pai interage e se relaciona com a criança, assim como na maneira como participa da gestação da companheira.

Compreender como a paternidade é constituída perpassa pelo desejo de ser pai. Para que um filho nasça é preciso desejo, do pai e a da mãe. Do encontro desses desejos vai nascer um projeto, que estará inscrito na pré-história da criança (Szejer & Stewart, 1997). O desejo de ter um(a) filho(a) faz parte do projeto de ser dos pais e, a forma como o homem se vê com futuro pai. O planejamento da gestação pode servir como uma preparação do homem para a paternidade, projetando a si mesmo no futuro com o(a) filho(a).

A gravidez da companheira acarreta mudanças significativas na relação conjugal, nas prioridades de vida do homem, além da aquisição de novos papéis e responsabilidades (Bolze, 2011). Esse período de transição está submerso em alterações físicas e emocionais que tendem a ser mais intensas antes do nascimento do(a) primeiro(a) filho(a) (Maldonado, 1980). Tais alterações são associadas a uma sobrecarga relativa às inúmeras adaptações subjetivas para a chegada do bebê.

Sentimentos de medo e insegurança são comuns durante a transição para a paternidade, independentemente da idade do homem (Jager & Botolli, 2011; Maldonado, 1980). A Síndrome de Couvade, que é caracterizada como um conjunto de sintomas físicos (enjoos, desejos e alteração de apetite) e psicológicos (ansiedade, nervosismo e mau humor), pode surgir no primeiro e terceiro trimestre da gestação da companheira e, tem como término o nascimento do(a) filho(a) (Cunningham, 2003).

Dessa forma, o homem vivencia a gestação da companheira em termos físicos e emocionais. Pesquisas demonstram que os homens têm entendimento da importância que lhe é atribuída, mesmo antes do nascimento dos(as) filho(as) (Caires & Vargens, 2012; Nogueira & Ferreira, 2012; Predomini & Bonilha, 2011). Os pais compreendem que a relação que é estabelecida entre pai-bebê inicia-se precocemente, podendo ser um preditor importante para o desenvolvimento do(a) filho(a), tendo intercorrências na vida adulta deste.

A participação do homem na vida do(a) filho(a) desde a gestação contribui para a percepção da gravidez como um período de transição para o exercício da paternidade, permitindo o sentimento de inclusão e ajudando-o a elaborar seu novo papel no ciclo de vida. Ao tornar-se pai o homem ganha um novo status social, visto que a paternidade é compreendida como um novo encargo social, em que o homem assume o papel de provedor moral e econômico da família. Ademais, é crescente a demanda por um envolvimento mais direto e intenso com o(a) filho(a), desde seu nascimento.

Contudo, é com o nascimento do bebê que a relação entre pai e filho(a) ganha maior impulso. A ativa participação paterna durante a gestação tende a facilitar a participação paterna na hora do parto. Pais que estiveram presentes nos primeiros minutos de vida do(a) filho(a), sentiram-se gratificados e emocionados (Predomini & Bonilha, 2011). Deste modo, a partir deste acontecimento é possível verificar a criação do vínculo emocional entre pai e filho(a) e, impulsionam a paternalização.

Com o nascimento do bebê, o pai passa a vivenciar concretamente o papel paterno, diferentemente da gestação, que seria uma etapa de preparação. Os pais desempenham muitos papéis, tais como provedor financeiro, apoio emocional materno e cuidador, porém a importância dispensada a cada um deles depende de um contexto para outro. Nesta vivência da paternidade na atualidade, a maioria dos pais envolvem-se emocionalmente e nos cuidados com o(a) filho(a) (Gabriel & Dias, 2017).

Portanto, os pais que participam da gestação e do nascimento de seus filhos, além de proporcionar suporte emocional a mãe, favorecem seu envolvimento emocional com o filho, isto é, ocorre uma melhoria na ligação afetiva entre pai-bebê. A ligação afetiva do pai-bebê desde a tenra infância, favorece o desenvolvimento infantil, tornando a relação pai-criança um preditor importante para sua socialização, influenciando positivamente o curso de seu desenvolvimento psicológico, físico e social.


Referências:

Bolze, S. D. A. (2011). A relação entre engajamento paterno e qualidade de relacionamento conjugal de pais com crianças de 4 a 6 anos. (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

Caires, T. L. G., & Vargens, O. M. C. (2012). A exclusão do pai da sala de parto: uma discussão de género e poder. Revista de Enfermagem Referência, 7, 159-168.

Cunningham, B. T. (2003). A comparison of relationship dimensions with behavior dimensions for first time expectant fathers. Dissertação de Mestrado não publicada. Marshall University, Huntington, WV.

Gabriel, M. R., & Dias, A. C. G. (2011). Percepções sobre a paternidade: descrevendo a si mesmo e o próprio pai como pai. Estudos de Psicologia, 16(3), 253-261.

Jager, M. E., & Bottoli, C. (2011). Paternidade: vivências do primeiro filho e mudanças familiares. Psicologia: Teoria e Prática, 12(1), 141-153.

Maldonado, M. T. P. (1980). Psicologia da gravidez, parto e puerpério. Rio de Janeiro: Vozes.

Nogueira, J. R. D., & Ferreira, M. (2012). O envolvimento do pai na gravidez/parto e a ligação emocional com o bebê. Revista de Enfermagem Referência, 8. 57-66.

Perdomini, F. R. I., & Bonilha, A. L. L. (2011) A participação do pai como acompanhante da mulher no parto. Texto & Contexto Enfermagem, 3. 445-452.

Szejer, M., & Stewart, R. (1997). Nove meses na vida da mulher: Uma abordagem psicanalítica da gravidez e do nascimento. São Paulo: Casa do Psicólogo.


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