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A Dor Invisível da Depressão Pós Parto


A depressão pós parto (DPP) se configura como quadro clínico com necessidade importante de atenção, acomete cerca de 10% a 20% das mulheres podendo começar na primeira semana após o parto e perdurar até dois anos (Iaconelli, 2005).

Os sintomas de DPP estão relacionados com a alterações no apetite e sono, dificuldade para dormir, crises de choro, desatenção e problemas de concentração, falta de energia e de interesse em atividades que antes eram consideradas agradáveis. Algo comum neste quadro é a sensação de incapacidade de cuidar do bebê e desinteresse por ele, pode ocorrer ideias de suicídio e sentimentos excessivos de culpa. A DPP pode ser caracterizada de várias formas, brandas e de difícil percepção até casos graves de a saúde da mãe e do bebê, necessitando muitas vezes de medicação (Piccinini, 2012; Iaconelli, 2005).

Este fenômeno pode ser considerado multicausal associado a questões genéticas, fisiológicas e psicológicas. Importante o alerta para fatores de risco como: Dificuldade em aceitar a gestação, falta de apoio do parceiro e de rede social de apoio, gestação ou parto com complicações, agravos na saúde do bebê, dificuldades financeiras, histórico de episódios depressivos da mulher antes da gestação, mulheres com histórico de sofrimento de tensão pré mestral (Piccinini, 2012; Iaconelli, 2005).

O processo de transformação psíquica que a mulheres precisam passar envolve a transformação de filha em mãe, transformação da auto imagem e da relação com a sexualidade e a maternidade. É importante as mulheres admitirem que este momento é repleto de ambivalência e é necessário o pedido de ajuda (Iaconelli, 2005).

Hildebrandt, 2013, realizou um levantamento dos pensamentos negativos de mulheres no pós parto onde a prevalência encontrada eram pensamentos como “É impossível explicar como estou se sentindo”, “Não é normal pensar do jeito que penso”, “Deve haver alguma coisa errada comigo”, “Estou presa nesta situação com meu bebê”. Estes pensamentos geram uma intensa angústia, pensamentos negativos em relação ao futuro e capacidade da mãe. A queixa das mães com DPP não são somente de seus bebês mas as questões das exigências impostas a maternidade e a sensação de que não vão dar conta toma conta toma conta do funcionamentos das mulheres.

As pesquisas vem retratando como um agravo no pós parto as expectativas e idealizações da maternidade como algo de intensa alegria e realização algo que fica no imaginário social das pessoas. (Hildebrandt, 2013; Piccinini, 2012; Iaconelli, 2005). Quando o bebê nasce e a mulher se depara com um novo papel, com uma ser tão sensível e dependente, com atividades e rotina que até então ela não estava acostumada a fazer ocorre esta sensação de tristeza materna considerada normal nas primeiras semanas do pós parto. A partir destas semanas se ela está com muita dificuldades de adaptar a rotina e a vincular com seu bebê deve ser procurado ajuda especializada.

A família pode e deve ajudar sendo compreensiva e apoiando a mãe neste momento único, sem cobrar as idealizações maternas sociais. Oportunizar que a mãe possa compartilhar seu sofrimento, suas angústias sem julgamento. Compreender que o amor materno não é puro instinto, mas é um sentimento construído na vivência diária da maternagem e por isso está sujeito a imperfeições, oscilações e modificações podendo trazer para as mães assim um grande alívio e sensação de compreensão (Azevedo e Arrais, 2006.

A partir do momento que a família e a puérpera percebem dificuldades em lidar com estes sentimentos deve-se procurar ajuda especializada, apenas um terço da mulheres deprimidas buscam ajuda (Piccinini, 2012; Iaconelli, 2005). O psicoterapeuta perinatal é profissional especializado para cuidar desta demanda ele é capacitado para a escuta destes sentimentos e auxiliar a construção deste novo papel, com o objetivo de emergir mais plenamente os sentimentos de amor e ternura e, sobretudo, ajude a entender as dimensões polivalentes que compõem cada relação humana (Maldonado, 2017).


Referências:

AZEVEDO, Kátia Rosa and ARRAIS, Alessandra da Rocha. O mito da mãe exclusiva e seu impacto na depressão pós-parto. Psicol. Reflex. Crit.[online]. 2006, vol.19, n.2, pp.269-276. ISSN 0102-7972. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722006000200013.

HILDEBRANDT, F.M.P. Depressão Pós Parto: Aspectos Epidemiológicos e Proposta de Tratamento CognitivoComportamental. Tese de Doutorado. UFRJ, 2013. Acesso em 02.nov.2017 : http://objdig.ufrj.br/30/teses/807952.pdf.

IACONELLI, V. Depressão Pós Parto, Psicose Pós Parto e Tristeza Materna. Revista de Pediatria Moderna, Julho-Agosto, v.41 Nº4, 2005.

MALDONADO, M. T. Psicologia da Gravidez: Gestando pessoas para uma sociedade melhor. São Paulo: Ideias e Letras, 2017.

PICCININI, C. A. (Org): Parentalidade no Contexto da Depressão Pós Parto. IN:PICCININI, C. A. ALVARENGA, P. (Org). Maternidade e Paternidade: A Parentelidade em Diferentes contextos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2012.


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